sexta-feira, 5 de junho de 2009

Trechos de grandes livros (I)

A pena do Cornélio Hoje me deu na telha de postar aqui trechos de livros os quais volto a reler. Se não os leio inteiros novamente, ao menos me detenho em certas partes por algum bom tempo. Entre os meus desorganizados livros, queria muito encontrar um: Fronteira, de Cornélio Penna. Depois de meses, achei-o. E essa é a obra mais densa e escura que já li na literatura brasileira. Além fazer partedas conquistas formais das vanguardas do início do século passado (foi escrita na década de 1930), traz características do romance gótico e da tradição fantástica. Até hoje um marco na nossa literatura assolada pelo realismo. Cornélio Penna foi pintor, o que de certo modo dá a sua ficção uma riqueza de imagens incomum. O tom é introspectivo e fragmentário. Sempre nebuloso. E, bem, sobre o livro há alguns estudos por aí e a obra do autor foi bem resgatada nos últimos anos. Contudo eu não sabia do filme. O que, para a minha ignorância, foi uma boa surpresa. Vai lá, veja o site da película: http://www.fronteira.art.br/. XLIII Ficara em mim, como um remorso novo, a minha visita à igreja, e, entre as acusações confusas, logo abafadas, que me fazia, sobrepujava sempre a de que lá não encontrava Deus, porque fora involuntariamente. E um dia, vesti-me lentamente de negro, e dirigi-me para a Matriz, onde pregavam Missionários que percorriam toda a Mata, e caminhava trêmulo, como se fosse ao encontro do Senhor, sem humildade e sem pureza, mas com a vontade toda exterior de encontrá-lo, mesmo à custa de minha razão. Ajoelhei-me e passei longos momentos, de olhos cerrados, sentindo-me só no meio da multidão também ajoelhada, só, horrivelmente só, longe de toda a vida, de toda inteligência, e, sobretudo, de toda bondade. E o sopro morno da febre da solidão, essa quietude doentia, essa dor de tudo que vive, me embriagava lentamente, e não queria despertar mais nunca... Nessa hora de prostração total lembrei-me de que todos os entes que amei se afastaram, uns com tédio, outros com um sonho diferente dormitando dentro do coração, outros com a verdade no fundo das pupilas límpidas, e reconheci que não tinha forças para criar um amor novo ou uma amizade nova, e qualquer esforço que fizesse, nesse sentido, seria criminoso.

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